•11:51


Amanheci triste.
Fiquei pensando, por exemplo,
na tristeza de não ser ninguém.
De nascer num barraco,
de não ter pão, leite, brinquedos.

Quero dizer, vocês me entendem?
Não nasci num barraco,
nunca faltou pão
à nossa mesa ...
Por que, afinal,
estou triste ?

É que acontece cada coisa,
que a gente
não sabe explicar.
É o caso do filho
da Maria não sei de quê,
pois nem toda Maria tem sobrenome,
muito menos o filho sem nome da Maria.

Chamou pelo meu filho
e pediu
que espalhasse pelo chão
os brinquedos de matéria plástica:
eram carrinhos
de cores variadas.

O filho da Maria sem sobrenome
ficou de longe,
olhinhos miúdos, namorando
os automoveizinhos.
Não pôs as mãos. Apenas olhava.

Meu filho aventurou
uma pergunta: - Você quer um carrinho?
Houve uma pausa. Os grandes pedidos
são sempre precedidos
de uma pausa significativa.
É preciso pensar para decidir
com absoluta segurança.

- Qual você quer ?
Insistiu meu filho.
Ingênuo, simples
até no pedir,
ele escolheu o menor,
o mais feio,
aquele que poderia ser rejeitado,
posto assim de lado,
tanto quanto o filho da Maria.

Fiquei com pena do menino
que não tinha brinquedos,
que passava fome,
mas que era humilde, dessa humildade
sem pretensão, que inspira respeito,
que se lê pelo espelho dos olhos.

- Aquele ali tá bom!

Deus do céu,
faz dias
que venho pensando
que este mundo é muito triste,
que há muita miséria
e muita maldade também.

Deus do céu,
a impressão que a gente tem
é que tudo esta no mesmo.
Os filhos da Maria se multiplicam!
A Terra boa que tu criaste,
para ser um jardim,
transformou-se
nessa babel de confusão:
Guerra! Pobreza! Miséria!
Doença! Desarmonia!

Deus do céu,
se eu posso fazer
alguma coisa, ajuda-me!
Eu sei que estas preocupado
com o mundo dos homens,
e deves estar seriamente
aborrecido conosco.
Nós transformamos o Mundo
formoso que tu nos deste.
Não estamos ajudando
o nosso irmão.

Por isso, meu Pai,
amanheci triste,
simplesmente triste,
porque temos sido maus!.

Entretanto,
sabemos que tu nos amas.
Disseste e assim o tens decretado:
- Vinde a mim todos vós
que estás cansados
e eu vos aliviarei.

- Eu vim buscar
e salvar
os que se perderam
pelos atalhos da vida.

Senhor,
o teu chamado é um apelo:
- Vinde!
Senhor,
tu conheces somente uma lei:
A do AMOR!
Um só sentimento:
O do Perdão!

Senhor,
estamos necessitados de um milagre!
No coracão de muitos
perdura a ilusão
de que possas ser
encontrado numa rua
qualquer, distribuindo amor,
compreensão...
Mas não é assim que espero
te encontrar.

Eu sei que tu estás refletido
na aflicão
do meu irmão,
na angústia da mulher desnutrida,
que espera o filho e não tem berço,
nem roupa,
nem sapatinhos de lã...

Eu sei que tu estás
nos olhinhos minguados
da criança sem pão,
que é encontrada,
chorando, com fome
perto do fogão.

Eu sei que tu estás
nos passos vigorosos
de todo homem
que caminha semeando,
como quem canta uma canção,
de gratidão,
pela terra generosa
que recebe da grande concha
das mãos
os pequeninos grãos.

Eu sei que tu estás
nessas mãos
pejadas de sementes,
mas que, à tarde,
voltam vazias,
sem alimento,
para junto de alguém
que nada tem.

Eu suplico um milagre!
Um milagre do teu amor!
Eu suplico o milagre do transplante,
da mudança rápida
do nosso coração petrificado.
Eu quero amanhecer alegre
para escrever
uma nova história
sobre o filho sem nome
da Maria sem sobrenome.

Senhor,
um milagre!
Eu suplico um milagre!
Volta na viração da tarde, volta!
Volta agora, neste entardecer,
quando tudo parece tão confuso,
tão estranho!...

Volta nesta hora tenebrosa do mundo,
volta e realiza o milagre
da multiplicação dos pães
para os famintos da Terra.
Volta e ensina-nos o caminho
harmonioso da paz.
Volta, e cicatriza
a úlcera da fome,
que ainda tortura,
queima e consome.

Volta
e corrige os pais desumanos
que negaram as muletas
da paternidade
aos anjinhos sem nome.

Volta, senhor,
na viração do dia,
ou, se quiseres, ao amanhecer,
mas, Volta! ...
•11:28
A vida tem dimensões
de tal ordem, tal grandeza,
que o mundo das ilusões
duvida, não tem certeza.

Bendito quem sabe dar
um copo dágua, uma prece,
a quem pede pelo olhar
e pelo olhar agradece.


Os balões semeiam fogo,
os fogos semeiam morte:
ninguém deve pôr em jogo
a vida, a saude, a sorte.

A face oculta da gente
disfarça tanto, mas tanto,
que a gente pode sorrir
e, por dentro, estar chorando.

Se todos querem ter paz,
em qualquer lugar da terra,
por que se fabricam armas
que só servem para a guerra?


Quem constrói a sua casa
sobre areia movediça,
jamais se queixe da sorte
nem fique rezando missa.

Quem vive sempre zombando
da desgraça do vizinho,
desgraça esta semeando
ao longo do seu caminho.
A correnteza do rio
procura o trilho do mar:
na correnteza da vida
procure alguém para amar.
O toque da eternidade
que a gente traz ao nascer,
só se torna realidade
no momento de morrer.
Na vida há tanto mistério,
que eu mesmo não sei dizer:
desde o berço ao cemitério
tudo pode acontecer.

Quem disser que mata o tempo
e vive levianamente,
talvez morra e não descubra
que o tempo é que mata a gente.

A pele pode ser negra,
pode ser branca, o que for,
mas 0 sangue, 0 sangue mesmo,
o sangue é da mesma cor.
•11:21



O tempo esta prenhe
de angústia.
A terra estremece
e se contorce de dor.
Há lágrimas deslisando
pela face nua das nuvens.

A multidão
é um amontoado inexpressivo
de folhas secas agitadas pelo vento.

Uma semente
caiu na palma da minha mão.

Grito para a platéia
de folhas mortas:
é uma árvore!
Não tem folhas,
nem frutos,
nem sombras
mas é uma arvore!

Examino-a.
O futuro está
na palma da minha mão.

Esta semente
é 0 pão,
a mesa,
o catre,
o teto,
a lenha do fogão,
o cabo da enxada,
o sonho e a riqueza.

Quem me ouve?
A resposta é um ruído
prolongado de folhas
que se movimentam
no embalo
ou no desespero do vento.

Beijo a terra sedenta.
A multidão cambaleia
no paroxismo da fome.

Afinal,
de que vale uma semente
na palma da minha mão?...
•20:26



Não me venhas falar de coisas mortas,
ou de sonhos que não se realizaram;
de cartas empilhadas, na gaveta,
de juras só juradas, não cumpridas.

Não me venhas falar de solidão,
de ausências, de saudades ou tristezas,
de noites sem luar e sem canção,
de rosas que murcharam nas roseiras.

Não me venhas falar de tuas rezas,
de terras semeadas, sem colheitas,
ou de viagens nunca planejadas.

Vivencia teu último momento,
para um pouco no tempo e na memória
e retorna às origens, em silêncio.
•20:21

E retorna às origens, em silêncio,
consciente de tudo o que te envolve;
esquece o teu relógio sobre o móvel
e o giro dos ponteiros sobre as horas.


Não forjarás sorrisos de vitória
nem fingirás gemidos de derrotas;
prolonga teus momentos de armistício
como um soldado em tática de guerra.

Sem movimentos de agressividade
e gestos vagos de provocação,
revive a tua paz, mas em vigília.

Apenas fica atento e bem desperto,
até que a vida em dimensão finita
volte às origens, plena do infinito.
•20:18


Volte às origens, plena do infinito,
quem fez do tempo a réplica de um sonho;
quem velejou na música do vento
e adormeceu na ponta de uma estrela.

Artífice do verso sem reverso,
da palavra que lavra na memória;
até as pedras poderão contar
a tua própria história biográfica.

Teus sonhos não sonhaste numa noite;
nem numa noite afugentaste os sonhos
que foram tuas noites de clausura.

Sem lágrimas, sem choro, sem saudade,
pôe em ordem o acervo das lembranças
e retorna às origens, em silêncio.
•20:13


E retorna às origens, em silêncio,
homem do mar, ó navegante audaz!
No fundo do teu mar, no coração
desce a âncora de prata do teu verso.

Navegaste por mares encantados
e armaste em cada porto a tua tenda;
em cada porto desenhaste um mapa,
em cada mapa desenhaste um porto.

Que segredos trouxeste do teu mar,
da tua formidável reclusão,
até que nos saudaste com teu choro?

Homem! capitanea tuas rimas;
é tempo de ancorar o teu veleiro
e voltar às origens, em silêncio.
•20:07


E voltar às origens, em silêncio,
sem pressa, sem resmungos e sem ânsia,
repousa no universo das lembranças
com uma rosa de saron no peito.

Andarilho do espaço sideral,
coberto de poeira das estrelas;
a rosa de saron do teu Planeta
é mais que um Passaporte Universal.

Há música de pássaros alados,
que implode em profusão de claridade,
na textura sutil de cada pétala.

Assim és tu, ó homem planetário:
Teu corpo é pó, é simplesmente pó.
imortal é essa chama que te anima.
•19:47


Imortal é essa chama que te anima
e que te põe no centro do universo,
és finito e infinito ao mesmo tempo,
- Grão de areia na praia dos conflitos.

Luz e sombra na sombra do crepúsculo;
o homem é uma pergunta sem resposta,
enquanto não descobre a sua origem
e não perquire a causa do silêncio.

Não contes nem relembres teus naufrágios,
nem teu barco sem remos e sem velas;
nem teus martirizados pesadelos.

Esquece a noite. Esquece os cães vadios;
por um momento escreve no teu chão:
Imortal e essa chama que te anima.
•19:30


Imortal é essa chama que te anima,
que te incendeia sem te consumir!
Quem pode decifrar esse mistério
e o atávico conflito do teu ser?

A argila toma forma e se organiza,
dinamiza-se o fôlego da vida,
o mortal se reveste de imortal,
até que o pó se canse de ser pó.

Enquanto a chama da imortalidade
mantém coesa a estrutura do teu corpo,
projetas tua sombra sobre a terra.

E a terra de repente não tem giro,
nem tem giro os ponteiros da memória:
imortal é essa chama que te anima.
•19:22


Imortal é essa chama que te anima,
no curso e no decurso imprevisível
de toda a tua mística jornada,
nos espaços de tua intimidade.

Nas sombras sonolentas de teus olhos,
vislumbram-se miragens sensuais
de terras nuas que tu fecundaste,
ignorando glebas e colheitas.

Tua prole, gerada no inconsciente,
é sonda espacial que se projeta
na incógnita ciranda do futuro.

Se o tempo te confina em seus limites,
dentro de ti, porém, quem tece o tempo
"não apaga a torcida que fumega."
•19:12


"Não apaga a torcida que fumega,"
nem sufoca a esperança adormecida,
é a promessa de quem soprou em ti
o criativo espírito de vida.

Podes tanger teus sonhos marginais,
também domar os ventos navegantes,
acalentar visões indescritíveis
de festivais de flores dançarinas.

No espaço do teu tempo relativo
decifra teus mistérios insolentes
e põe marcos de paz em teus atalhos.

Ouve o que diz a voz do teu Profeta:
"O Deus que fez de ti seu santuário,
não apaga a torcida que fumega."
•19:09


"Não apaga a torcida que fumega,"
Quem acompanha o vôo inteligente
do pássaro que cruza ignotos mares,
na ansiosa busca de seu novo ninho.

Quem alimenta as aves que não plantam
e põe nos lírios alvas vestimentas,
Quem nunca abandonou nem desistiu
de amar e acreditar no ser humano.

Há sempre uma esperança renovada,
um anseio, um chamado persistente
endereçado à mente e ao coração.

É Pai e Soberano, mas respeita
o livre arbítrio e, decididamente,
"não apaga a torcida que fumega."
•19:03


"Não apaga a torcida que fumega"
no coração de cada ser humano;
um leve sopro num instante breve
espalha cinzas, ressuscita a chama.

Não há deserto que não fique fértil
e nem caverna mal iluminada;
o tempo é conjugado no presente
e o dia que se vive é sempre "hoje".

Teus olhos sonhadores tem visões,
tem sonhos tua mente indagadora,
porque o ETERNO fez morada em ti .

És imortal, és chama, és infinito,
mas... enquanto mortal, o Deus Profeta
"não apaga a torcida que fumega."
•13:04


"Não apaga a torcida que fumega",
mesmo que seja incomodativo
e lacrimeje os olhos. Todavia,
não cessa a expectativa do retorno.

Na sua longa ou curta caminhada,
o ser humano nunca está sozinho;
as vezes ele fala no silêncio
e no silêncio nâo se contradiz.

O sol que se levanta no nascente,
tem no poente uma casa provisória:
põe luz e sombra sobre toda a terra.

Homem da Terra - símile do dia
e símile da noite - és luz e sombra.
Fecha o teu livro. Encerra o teu discurso.
•12:58


Fecha o teu livro. Encerra o teu discurso,
que o tempo do teu tempo não tem volta.
Lá fora a noite calma e luminosa
convida-te a subir na carruagem.

A terra vai ficando tão distante,
envolta em seus contornos de mistérios;
és passageiro do desconhecido,
absorto na paisagem das estrelas.

O teu adeus ficou nos corações
que vão também seguir na tua trilha,
em busca de um pouso no infinito.

Conheceste o Planeta das perguntas,
mas, agora, seguro de ti mesmo,
adentraste o Caminho das Respostas.
•12:54
Soneto XIV


Adentraste o Caminho das Respostas,
consciente de que é longo e não tem fim;
assemelha-se a linha do horizonte:
quanto mais perto mais de ti se afasta.

Mas sejas paciente e persistente
ao lançar, cada dia. tua rede
no relicário do teu mar de pérolas,
- oceano do teu próprio inconsciente.

Gerada em teu recesso, cada pérola
- grão de areia na praia dos conflitos -
tem beleza e riqueza inestimáveis.

Apenas fica atento e bem desperto.
Desce a âncora de prata do teu verso:
é tempo de ancorar o teu veleiro.
•12:48
Soneto XV


Para um pouco no tempo e na memória,
consciente de tudo o que te envolve;
teus sonhos não sonhaste numa noite,
homem do mar, ó navegante audaz!

Repousa no universo das lembranças.
Esquece a noite. Esquece os cães vadios.
Quem pode decifrar esse mistério
na incógnita ciranda do futuro?

No espaço do teu tempo relativo,
há sempre uma esperança renovada,
e o dia que se vive é sempre "hoje".

Fecha o teu livro. Encerra o teu discurso.
O teu adeus ficou nos corações.
Adentraste o Caminho das Respostas.
•12:33


Venho de um tempo
que não se conta.
Escondi meu castelo
na areia do deserto.

Não pergunte meu nome.
Não queira decifrar
minha identidade
cromossomática.
Não vasculhe
minha herança atávica.

Tenho no meu corpo:
a aspereza da argila,
o orvalho das madrugadas
silenciosas e frias.

Perturba-me o lamento do vento
esculpindo vultos
nas cavernas de ninguém...
•12:25


A criança
está na rua
porque não tem casa.

Tem casa
mas não tem mãe.
Tem mãe
mas não tem pai

A criança
está sozinha na gíria.

A criança
está na rua
porque a rua
não tem dono.

E a criança
que está na rua,
tem nome
mas não sabe de quem é.

A escola
da criança
é a rua dos seus ofícios.

Fala-se no social
etcetera e tal,
mas a criança
quer espaço
para ninar seus sonhos.

Pode-se falar
de céu azul
e de casa
cor-de-rosa,
mas a criança esfomeada
continuará sem teto
e sem afeto.

Amor
que não é abrigo,
abrigo que não é sustento,
é como a palha
do trigo
que mora na casa do
vento.
•10:23


Não estou
cansado da vida,
nem do amor
sem fadiga,
nem do vento
que fustiga.

Não estou
cansado da espera
que protela,
nem de pisar
as areias
movediças deste mar,
que bebe o rio,
que deixa o vento brincar
com a espuma
dos seus queixumes.

Não estou
cansado de procurar
aquela estrela sem brilho,
nem de guardar
a semente fabricada.

O que cansa
meus olhos,
minha mente,
meus ouvidos,
minha pele enrugada,
é este buraco de ozônio
no teto negro
das penitenciárias;
é este ar poluído
que violenta,
estupra,
ensanguenta o chão.

É este tráfico maldito,
tremendamente traçoeiro,
que inferniza o rico e o pobre,
no campo, na cidade, na favela...

Da janela
do meu quarto,
fortemente gradeada,
posso ouvir
o canto de um pássaro
escondido na folhagem verde
de um arbusto.

Sensibiliza-me a textura
graciosa de uma flor...
Aspiro o seu perfume...

No telhado do vizinho, um gato...
parece sonolento
de tanto que se espreguiça...

Meu Deus!...
O homem,
o homem,
o homem!...
É ele que engendra
o bem e o mal...
A paz e a guerra!...
O amor e o odio!...
Ser
•10:17


Ser
como a brisa
que não tem pressa
de passar e de chegar.

Ser
como a brisa
que não levanta o pó
do chão
e não turva
as águas do regato.

Ser
como a brisa
que mexe
com as folhas,
mas não desmantela
as llores.

Ser
como a brisa
que passa
e nao incomoda,
que chega
mas não assusta.

Ser
como a brisa...
•10:05


Foi decretado
um Dia
de Gloria Universal.

Os ponteiros
de todos os relógios
detiveram sua marcha.

Homens
e mulheres,
solenemente reunidos,
pensaram e repensaram:

- Nao vale a pena guerrear!

- Vamos plantar,
colher
e repartir.

- Apaguem-se
dos dicionários
as palavras daninhas
e tudo quanto possa
poluir
a mente do homem,
da mulher
e da criança.

- Ninguém
precisará
se defender,
nem se esconder,
mascarando o corpo
e corrompendo as vestes.

- Haverá
uma senha
interligando as mentes,
amainando os corações
para o milagre
da semeadura.

- Por isso,
ficará para sempre
banhida do inconsciente
coletivo a palavra caos.

- Nao haverá
dilúvios de contradições.
O arco-íris da Paz
há de gerar
na consciência dos povos
A BOA-VONTADE DE DEUS
através de Seu Filho JESUS.
Ele
•09:30


Ele
carregou a cruz
da zombaria.

Ele
encostou
os lábios
na esponja de fel.

Mas não se queixou.

Ele
fraquejou
sob o peso
do madeiro.

Ele
ficou sozinho.
Foi ferido,
escarnecido
e, no rosto cuspido.

Mas não se queixou.

Ele
aceitou:
a coroa,
os espinhos,
os apupos.

E não se queixou.

No meio
de tanto sofrer,
Ele
ainda soube dizer
a palavra boa
que perdoa:
"Pai,
essa gente
não sabe o que faz."

Ele intensamente amou,
mesmo sabendo
quem eu sou,
quem voce é.

Por isso,
não se queixou.

Ele
se chama Jesus,
o Príncipe da Paz,
o Pai da eternldade,
trocado por Barrabás!

Mundo,
grande mundo,
imundo!...
•08:22


Ninguem é dono de si mesmo!
A nuvem é tocada pelo vento,
pelo vento, a flor é desfolhada.

O rio
ameaça saltar do leito.

Chove,
mas a chuva não pergunta
de quem é a lavoura,
a horta,
o telhado.

A terra tremeu.
Teria sido de medo
ou de comoção?

Onde estarão as crianças?
E os velhos?
E os paralíticos?
E os cegos?
E os retardados?

O vento amainou,
a chuva cessou,
o rio amansou,
o sol brilhou.

O calor do sol
ferveu a terra.
A horta não existe mais.
O leite secou.

As crianças
ficaram adultas
ou morreram na enchente.
As que se salvaram
talvez morram de fome.

Na fartura de alimentos
guarda-se em celeiros.

Na miséria,
os destinos são desiguais.
Porém o homem esquece:
esquece que tem celeiros
e os guardados
da plantação.

Quem se comove
e deseja repartir
O pão da esperança,
o pão que lhe sobra
na despensa do coração?
•08:17


Teu dia
amanheceu sem sol,
tua noite
não tem luar?

Teu jardim não floriu,
teu pomar não deu frutos?

O trigo te negou 0 pão,
a fome triturou teu corpo?
O sol bebeu teu sangue,
secou teus ossos,
queimou teu cérebro?

A água poluiu no copo
e o copo fez sangrar teus lábios?

Tua garganta se fechou
e o teu canto feneceu
nas entranhas do teu ser?
Não pense que estás sozinho!
O Deus que morreu na Cruz,
quer ressuscitar em ti,
quer te renovar
a esperanca
nas asas da tua fé.
•08:12

Se eu pudesse voar
faria meu pouso
numa estrela,
para ver a Terra
da perspectiva do sonho.

Não me interessa ver
a linha do equador
ou as divisões dos equinócios.

Nem as estações
nas quais o tempo
faz arranjos de mudanças.

Nem os pontos cardeais,
nem o eixo imaginário do Planeta
que se chama Terra.

Eu quero ver a Terra
da perspectiva do sonho.

Quero sonhar acordado
com a cor celestial
do meu Planeta.
•08:02


Se as pedras tem alma,
há gente que tem alma de pedra.

Há pedras que choram,
silenciosas.
Outras, que são secas,
secas,
agressivamente secas.

Há gente que tem alma de pedra:
olhos umedecidos de silêncio.
Silêncio nos olhos
que não têm mais brilho.

Há segredos milenares
na alma das pedras,
segredos que o carbono-14
jamais desvendará.

Há pedras na terra,
pedras no mar,
pedras no rio,
pedras no ar
e pedras machucando
os pés da gente.

Descubro alma nas pedras:
pedras que tem alma
de gente,
e gente que tem alma de pedra.

Estou confuso,
perplexo
e quase sem nexo.

Uma pedra no meu caminho
de pedra:

- A morte!

Uma pedra no túmulo
feito de pedra.

Se as pedras tem alma
os tumulos
tem alma de pedra.

Casas de pedra,
túmulos de pedra,
almas de pedra.

Há sempre uma pedra
machucando a gente.
- Esta pedra
pode ser os teus queixumes
ou a tua pérola.
•04:51


A felicidade,
esquiva como sempre,
chegou,
um dia. bem cedinho,
à minha porta,
e ficou
esperando
que eu a mandasse entrar.

Não bateu, não chamou,
não disse nada.
Apenas chegou,
timidamente,
como quem pede desculpa,
e se encostou
à minha porta.

E tão silenciosa ficou,
que o dia todo passou,
e eu não tive,
sequer,
o gesto que conforta,
o gesto delicado
de abrir-lhe a minha porta.

Anoiteceu,
e ela, cansada de esperar,
foi, de certo,
procurar
quem lhe desse pousada.

... E nunca mais voltou!

E era assim,
e sempre assim
que aquele velhinho só
terminava a sua história:

Ainda hoje,
depois de tantos anos
de fatais desenganos,
eu sinto, constantemente,
a realidade,
de que, na minha vida,
já passou,
imperceptivelmente,
a felicidade.
•04:41


Cosntruir uma casa
é trabalhar com pedra,
tijolo, areia,
cimento, madeira.

Construir uma casa
é trabalhar com materiais
que a embelezam.

Quanta gente trabalha
na construção de uma casa!

Pedreiro,
carpinteiro,
eletricista.
servente,
engenheiro
e tantos outros
da primeira e última hora.

As casas formam cidades
e as cidades são núcleos
de pessoas, famílias, igrejas,
clubes, fábricas,
e tantas coisas
que as coisas e os seres nomeados
representam pouco
na expressividade
dos números e das contas.

Bem diferente,
diferente das casas
que podem ser demolidas
por decreto ou sem decreto,
é construir uma civilização
que não se destrua a si mesma.

é gratificante
presenciar o crescimento,
a expansão,
0 progresso
do cimento, do ferro e do ouro
em tempo de paz permanente.

Construir o futuro no presente,
sem necessidade da força,
é algo que transcende
a idealização mais pura
do pensamento humano.

Esta seria
a humanidade crística
do sermão do Monte
e das Bem-aventuranças...
•04:32
Escrever
um poema
é velejar no rio das memórias.

Escrever
um poema
é viver muitas vidas,
e sonhar muitos sonhos,
e morrer muitas mortes.

Escrever
um poema
é galopar num pedaço de nuvem,
é tocar nas estrelas,
é bailar sob o ritmo
do sorriso inocente das crianças.

Escrever
um poema
é trabalhar com a idéia,
é viver 0 milagre
do pensamento
materializado na palavra.

Escrever
um poema
é comungar
com Deus,
suprema realidade do Universo.
É alimentar multidões
com a santa eucaristia
da PALAVRA...
•04:27


Saber construir
é uma ciência que cada pessoa
pode pôr em prática
no dia-a-dia da vida.

Independe de regrinhas forjadas
ou feitas sob encomenda.

Há pessoas construindo estradas,
pontes e amizades,
templos, albergues, asilos,
orfanatos e fraternidades.

Há pessoas construindo fábricas
que geram trabalho e progresso;
celeiros que abastecem cidades
e alimentam crianças.

Há pessoas plantando, colhendo,
e ajudando outros a colher.

Há pessoas semeando flores
que enfeitam e perfumam vidas.

Há pessoas empenhadas
em construir,
com os recursos
da compreensão
e da bondade,
casas que serão
materializadas em lares,
lares que abrigarão familias,
famílias que se transformarão
em pontos infinitamente
luminosos,
na noite escura dos homens
e mulheres
que perderam a visão
da Cruz
e da ressurreição.
•04:23


Avisa
pro jornal,
antes que a notícia
vire boato
e o disse-me-disse
role no asfalto
sem requintes
de retórica.

- Na cidade poluída
de assaltos,
sequestros,
gases letais...
Na cidade prostiuída,
UM HOMEM
MORREU...
DE VELHICE!
•04:18


O pessegueiro secou.
As folhas caíram
e os frutos
apodreceram no chão.

O palhaço
espalhou
cinza
no picadeiro.

Pediu desculpas,
e chorou.

Terra,
vocábulo
que rima
com guerra.
•17:39
O menino não quer morrer,
que não morrera senão comigo.
Manoel Bandeira



Era um tempo assim assim,
sem chuvas torrenciais
e nuvens de inquietações.

Carne seca
assada na brasa,
chaleira no fogão,
farinha na panela,
pirão, pirão, pirão.

A menina entrou na roda
a procura de seu par,
disse um verso bem bonito
disse adeus e foi casar.

Dizei, senhora viúva,
com quem quereis casar?
A viúva emudeceu,
preferiu ficar viúva
de seu único marido.

São lembranças
e remembranças
de um tempo de velhas crenças,
de crianças que não morreram
de tão crianças que eram.

Um tempo assim assim
nao tem princípio nem fim.
•17:35


Tenho um amor
para amar,
um sonho
para acalentar,
uma rua para andar.

Tenho um mar
para velejar,
uma flor para ofertar.

Tenho uma vida
para eternizar
no santuário
da ressurreição.

Só não tenho
o meu destino
na palma da minha mão.
•17:21

Quero
encontrar
o meu pequeno raio de luz
que se escondeu numa estrela.

Ha milênios
que sinto este anseio
de encontrá-lo
percorrendo caminhos ignotos.

Porém, não sei
em que constelação
se refugiou
o meu pequeno raio de luz.

Fiz o meu caminho
na crista das ondas
e aprendi que a espuma do mar
é o sonho das águas,
e que as águas,
refletindo as estrelas,
dão à luz a estrelas sem brilho.

A trilha do meu destino
não é o caminho do mar.
Quero encontrar
o meu pequeno raio de luz
que se escondeu numa estrela.

Ele fugiu dos meus olhos
e deixou minha alma vazia.
Tornei-me andarilho no mundo,
sem travesseiro de pedra
e um lugar certo de pouso.

Mas a trilha do meu destino
não é o caminho
áspero da Terra.

O meu caminho
está traçado
na senda luminosa das estrelas.

O infinito
é o futuro da alma.

Afinal,
em que estrela,
em que sol,
em que nascer de aurora
estará
o meu pequeno raio de luz?