•10:23


Não estou
cansado da vida,
nem do amor
sem fadiga,
nem do vento
que fustiga.

Não estou
cansado da espera
que protela,
nem de pisar
as areias
movediças deste mar,
que bebe o rio,
que deixa o vento brincar
com a espuma
dos seus queixumes.

Não estou
cansado de procurar
aquela estrela sem brilho,
nem de guardar
a semente fabricada.

O que cansa
meus olhos,
minha mente,
meus ouvidos,
minha pele enrugada,
é este buraco de ozônio
no teto negro
das penitenciárias;
é este ar poluído
que violenta,
estupra,
ensanguenta o chão.

É este tráfico maldito,
tremendamente traçoeiro,
que inferniza o rico e o pobre,
no campo, na cidade, na favela...

Da janela
do meu quarto,
fortemente gradeada,
posso ouvir
o canto de um pássaro
escondido na folhagem verde
de um arbusto.

Sensibiliza-me a textura
graciosa de uma flor...
Aspiro o seu perfume...

No telhado do vizinho, um gato...
parece sonolento
de tanto que se espreguiça...

Meu Deus!...
O homem,
o homem,
o homem!...
É ele que engendra
o bem e o mal...
A paz e a guerra!...
O amor e o odio!...
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