"Mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos."
Carlos Drumond de Andrade
Carlos Drumond de Andrade
O Forte de São Mateus
é um prisioneiro do mar
Secularmente adormecido
e sem pressa de acordar,
o Forte de São Mateus
é um prisioneiro do mar.
Dorme
para apagar da lembrança
o desmatamento criminoso
e a morte da última árvore
que deu nome à Pátria Brasileira.
Forte de São Mateus!
Forte de São Mateus!
Os teus potentes guardas
estão hoje enferrujados;
e os olhos que olhavam para o mar
não olham mais.
Um carregamento cle pau-brasil
por um cruzado.. .
Há na tua memória
a fala do português,
do índio,
do francês
do holandês.
Há intrigas,
futricas,
conchavos traiçoeiros;
há lobos de capa-preta
farejando o sangue dos guerreiros,
—gente nativa da terra.
Forte de São Mateus!
Prisioneiro do mar,
sem pressa de acordar...
Ouviste o ultimo gemido
do último tamoyo...
Paralizado no tempo,
não passas de uma cidadela
adormecida . . .
Forte de São Mateus!
Forte de São Mateus!
Em volta de ti
o mar te olha com mil olhos
e te abraça com mil braços.
Um minuto de silêncio
ou uma hora de contemplação
para 0 solene monumento
de pedra e argila,
Testemunha da nossa História.
Um minuto de silêncio
ou uma hora de contemplação
eu peço a quem pisa
o lombo desnudo
desse gigante
que não tem pressa de acordar!...