•13:30
"Apaga sobre esse quadro as velas do pensamento."
Cecília Meireles

Não conheço mais
a lagoa
que sustentava
os braços dos barqueiros.

Não conheço mais
a lagoa
que escorregava
por-de-baixo
da ponte Feliciano Sodré,
como quem pede desculpas,
e vai passando...

Não conheço mais
a lagoa das barcaças
e dos remadores.

A lagoa ficou
confinada a poucos
metros de largura.

Os antigos diziam
que as águas desta lagoa
de vez em quando
escapuliam para o largo
da Matriz.

Os antigos contavam
estórias engraçadas
de bateiras pejadas de sal
com notas fiscais
especificando
tantas toneladas de cal.

Se acaso surgisse
um homem da lei,
um fiscal,
o documento era logo
alterado.
Uma cedilha, que mais parecia
uma cobrinha enroscada,
era colocada
debaixo do "c";
onde se lia "cal"
agora se lê "çal"

Tudo sumiu
no triangulo do Tempo.

O passado
foi esquecido
e sepultado
em nome do progresso.

Se me perguntarem:
— Como vai a lagoa?
Eu responderei:
—Não conheço mais
a lagoa
que sustentava
os braços dos barqueiros.

E acrescentarei:
A lagoa é a nostalgia
da minha insípida poesia.
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